sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013




Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto
E hoje, quando me sinto,
É com saudades de mim.


Mário de Sá-Carneiro



“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo”
 

José Saramago



“...é o que as palavras simples têm de simpático, não sabem enganar.”
 

José Saramago

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013




Eu não sei senão amar-te,
Nasci para te querer.
Ó quem me dera beijar-te,
E beijar-te até morrer.


Fernando Pessoa





"Isto poderá parecer estranho, mas as artes têm entre si uma profunda alma tão unida que as feições caracterizadoras duma são, por vezes, intimamente comparáveis às feições caracterizadoras da outra: nada mais parecido com a música de Mozart do que a pintura de Rafael; nada mais parecido com a poesia de Dante que a escultura de Miguel Ângelo. E porque não? Todas as feições se parecem a exprimir o amor, a curiosidade, o terror: as artes são apenas as feições do belo ideal."

Eça de Queirós




"A separação (temporária) tem isto de bom - que põe em relevo e torna interessantes mil pequenas coisas da vida daqueles que amamos - que até aí, todos os dias vistas, quase se não percebiam."

Eça de Queirós



"Ovo assado, meio ovo; ovo cozido, ovo inteiro; ovo frito, ovo e meio."
Provérbio português



"Mais vale um ovo hoje que uma galinha amanhã."

 Provérbio Português



"O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem."

 Eugénio de Andrade


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013




Cai chuva do céu cinzento 
Que não tem razão de ser.
 Até o meu pensamento 
Tem chuva nele a escorrer. 
Tenho uma grande tristeza
 Acrescentada à que sinto. 
Quero dizer-ma mas pesa
 O quanto comigo minto. 
Porque verdadeiramente 
Não sei se estou triste ou não.
 E a chuva cai levemente
 (Porque Verlaine consente)
 Dentro do meu coração.

Fernando Pessoa






Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego…

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece…

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente…


Fernando Pessoa

Mistério





 

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!


Florbela Espanca


sábado, 16 de fevereiro de 2013




“Não há nada mais triste que uma ausência (...), só fica uma pungente melancolia, esta que faz (...) sentar ao cravo e tocar um pouco, quase nada, apenas passando os dedos pelas teclas como se estivessem olhando um rosto quando já as palavras foram ditas ou são de menos.”
 

José Saramago



Quase



 


Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...


Mário de Sá-Carneiro




"Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja e a mulher que se ama. A beleza, o espírito, a graça, os dotes da alma e do corpo geram a admiração. Certas formas, certo ar voluptuoso, criam o desejo. O que produz o amor, não se sabe; é tudo isto às vezes; é mais do que isto, não é nada disto. Não sei o que é; mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar, que se pode desejar sem a amar."

Almeida Garrett




“És mulher, e as mulheres não entendem os homens. Sempre o entrevi; hoje sei-o perfeitamente. A mulher não pode nem deve compreender o homem. Triste da que chega a sabê-lo!”

Almeida Garrett


"Galinha que muito canta poucos ovos põe."

 Provérbio Português

Vencido está de amor



 


Vencido está de amor Meu pensamento
O mais que pode ser Vencida a vida,
Sujeita a vos servir e Instituída,
Oferecendo tudo A vosso intento.

Contente deste bem, Louva o momento
Outra vez renovar Tão bem perdida;
A causa que me guia A tal ferida,
Ou hora em que se viu Seu perdimento.

Mil vezes desejando Está segura
Com essa pretensão Nesta empresa,
Tão estranha, tão doce, Honrosa e alta

Voltando só por vós Outra ventura,
Jurando não seguir Rara firmeza,
Sem ser no vosso amor Achado em falta.


Luís de Camões



“Não sabemos da alma senão da nossa; As dos outros são olhares, são gestos, são palavras, com a suposição de qualquer semelhança no fundo.”
 

Fernando Pessoa



“Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor. Como as outras, ridículas...”
 

Fernando Pessoa
 
 


“Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras.”
 

Padre Antônio Vieira



Sê paciente; espera que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto ao passar
o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O meu desejo



 

Vejo-te só a ti no azul dos céus,
Olhando a nuvem de oiro que flutua.
Ó minha perfeição que criou Deus
E que num dia lindo me fez sua!

Nos vultos que diviso pela rua,
Que cruzam os seus passos com os meus...
Minha boca tem fome só da tua!
Meus olhos têm sede só dos teus!

Sombra da tua sombra, doce e calma,
Sou a grande quimera da tua alma
E, sem viver, ando a viver contigo...

Deixa-me andar assim no teu caminho
Por toda a vida, Amor, devagarinho,
Até a morte me levar consigo...


Florbela Espanca

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013




"«Love me little, love me long». Há muita verdade neste lindo provérbio inglês. O que é violento é perecível. O que é calmo é duradouro. Um amor brusco e irrefletido, e com natureza de chama participaria da essência dessa primeira ilusão de que eu falei há pouco, e estaria condenado, como toda a chama, a consumir-se a si mesmo. É necessário que as coisas cresçam devagar e lentamente — para que durem muito."

Eça de Queirós



"O amor, (...), como tu sabes é feito de muitos sentimentos diferentes. Alguém escreveu, creio que até fui eu - que era uma bela flor com raízes diversas. Ora quando uma dessas raízes é a estima absoluta pode ele ao fim de longos anos secar pelas outras raízes mas permanecer vivo por essa."

Eça de Queirós

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013





"Não pode haver ligação de almas onde não exista identidade de ideias, de crenças e de costumes."

Eça de Queirós




"Não se descuide de ser alegre - só a alegria dá alma e luz à Ironia, à Santa Ironia - que sem ela não é mais que uma amargura vazia."

 Eça de Queirós

domingo, 10 de fevereiro de 2013




"Esta expressão «Leitura», há cem anos, sugeria logo a imagem de uma livraria silenciosa, com bustos de Platão e de Séneca, uma ampla poltrona almofadada, uma janela aberta sobre os aromas de um jardim: e neste retiro austero de paz estudiosa, um homem fino, erudito, saboreando linha a linha o seu livro, num recolhimento quase amoroso. A ideia da leitura, hoje, lembra apenas uma turba folheando páginas à pressa, no rumor de uma praça."

Eça de Queirós




"A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida - que é não ser apagada de todo pela morte."

 Eça de Queirós





Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa.

José Saramago



Teus olhos têm uma cor
de uma expressão tão divina,
tão misteriosa e triste.
Como foi a minha sina!!!

É uma expressão de saudade
vagando num mar incerto.
Parecem negros de longe...
Parecem azuis de perto...

Mas nem negros nem azuis
são teus olhos meu amor...
Seriam da cor da mágoa,
se a mágoa tivesse cor.


Florbela Espanca



"...Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
Sem nos dar braços para os alcançar?!..."


Florbela Espanca

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Inês de Castro




Inês de Castro , Dama da corte portuguesa nascida em Castela (Galicia – Espanha). Linda jovem loura de olhos verdes. Prometida aos 14 anos para o primo e herdeiro do trono de Portugal, D.Pedro, é dispensada do compromisso pelo Rei D.Afonso IV e trocada por Constança, uma princesa espanhola.
D.Pedro então, após os primeiros anos de casamento, começa a olhar com outros olhos para a prima, precisamente a linda Inês de Castro, agora também já casada. Ambos começam uma relação pecaminosa perante a igreja. Além das inúmeras desculpas para se manter fora de casa para se encontrar com Inês, D.Pedro ainda convida a amante para ser madrinha de seu primogênito, D.Fernando, e assim justificar os "encontros" tão comuns.
D.Afonso IV então ordena que Inês retorne para Castela. Porém assim que Constança morre, Inês volta a ser amante de D.Pedro.
Os conselheiros do reino não andavam muito satisfeitos com a nova situação, pois os irmãos de Inês, do Clã Castro, os soberanos de Castela eram conhecidos opositores do reino. Portugal está beirando o caos, pois além dos problemas políticos, há a proliferação da peste negra e a população está extremamente insatisfeita. D.Fernando, filho legítimo de Pedro e Constança, se sente ameaçado pelos irmãos bastardos. Seu avô, o rei D.Afonso IV, apoiado pelos conselheiros reais, Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho, ordena a morte de Inês de Castro. Apesar de ser mãe de três filhos de D.Pedro, os executores, aproveitando a ausência de D. Pedro em uma de suas habituais caçadas, entraram no Paço e, ali mesmo, apesar de suas suplicas, a decapitaram em 7 de Janeiro de 1355 com apenas 30 anos de idade.
Ao retornar de sua viagem, D.Pedro descobre que sua amada Inês foi degolada e resolve se aliar aos Castro e tomar o reino de Portugal à força.
Quando finalmente derruba o pai, D Afonso IV, e assume o trono de Portugal, D.Pedro ordena a execução dos assassinos de sua amada. Inês de Castro é proclamada rainha de Portugal, tendo o seu corpo em adiantada decomposição coroado em cerimônia formal (inclusive com o beija-mão).

Cumprida a sua vingança, agora Rei D.Pedro I ordenou o translado do corpo da rainha Inês, do modesto cemitério da Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, para o suntuoso Mosteiro de Alcobaça, onde D.Pedro I mandou construir dois espetaculares túmulos.

Os túmulos de Inês e D.Pedro I, magníficas obras de arte tumular do século XIV, não estão dispostos tradicionalmente lado a lado, mas um de frente pro outro formando uma linha horizontal. Os corpos também estão dispostos de forma que fiquem pé com pé. Segundo D.Pedro I, no dia que eles se encontrassem para juntos subirem ao paraíso, se olhariam nos olhos. Um outro detalhe que impressiona são as bases dos túmulos. O túmulo de D.Pedro I é sustentado por 6 leões. O túmulo de Inês também é sustentado por 6 leões, mas com uma diferença: os leões não tem face felina, e sim humana. Os rostos dos seus assassinos. Ao ordenar esculpir as faces de seus algozes no túmulo de Inês, D.Pedro I simbolicamente condenou os assassinos a sustentar o peso de sua amada para toda a eternidade. 

Inês é morta




Significado: Não adianta mais.
Histórico: Personagem histórica e literária, celebrada em Os lusíadas, de Luís de Camões (1524-1580), Inês de Castro (1320-1355) teve  um caso com o príncipe Dom Pedro (1320-1367), com quem teve três filhos.
Por reprovar o romance, a casa real condenou a dama castelhana que vivia na corte portuguesa à morte por decapitação.
Ela literalmente perdeu a cabeça por um homem.
Quando já era o oitavo rei de Portugal, Dom Pedro deu-lhe o título de rainha.
Mas àquela altura logicamente isso de nada adiantava: Inês já estava morta.
A frase passou a significar a inutilidade de certas ações tardias



O dia em que eu como pássaro,deixar-me escapulir num vôo, penetrarei em teu coração e tua presença me possuirá para sempre
Sua imagem pecorre meus sonhos como uma sombra,sua voz me invade meus sentidos como um sonho.
Os grandes momentos da vida vêem por si mesmos...
...não faz sentido esperar por eles.
seu carinho me acompanha.
O valor das coisas não estão no tempo que elas duram, mas na intensidade que acontecem.
Por isso existem momentos inesquecíveis e pessoas incomparáveis.

Fernando Pessoa

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013





Aos olhos dele
Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa;
Pelo azul do ar. E assim fugiram
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda a gente
Eu digo sempre, embora magoada:
Não acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavíssima de dor...
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m'encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

Florbela Espanca




Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!
(...)
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
'Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tú és como Deus: Princípio e fim...

Florbela Espanca




“... a efetiva impossibilidade de medir esse tempo a que chamamos de alma...”
 

José Saramago
  
 



“As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler”
 

José Saramago




Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos? 


José Saramago

Mar Português




Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa



Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.

Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013





“A música que me sai dos dedos ama o silêncio, e a suprema ambição do poeta é integrá-lo no canto.”
 

Eugénio de Andrade



A andorinha faz
a sua casa
no vento.


Albano Martins



O verão deixa,
como herança, ao outono
um leque de folhas secas.


Albano Martins

Pintura






Onde se diz espiga
leia-se narciso.
Ou leia-se jacinto.
Ou leia-se outra flor.
Que pode ser a mesma.

As flores
são formas
de que a pintura se serve
para disfarçar
a natureza. Por isso
é que
no perfil
duma flor
está também pintado
o seu perfume.

Albano Martins

Ainda te falta




Ainda te falta
dizer isto: que nem tudo
o que veio
chegou por acaso. Que há
flores que de ti
dependem, que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas
acesas. Que há
na brancura
do papel alguns
sinais de tinta
indecifráveis. E
que esse
é apenas
um dos capítulos do livro
em que tudo
se lê e nada
está escrito.


Albano Martins

domingo, 3 de fevereiro de 2013




Nem sempre a neve
cai do céu : às vezes,
explode numa flor. 


Albano Martins

O Meu Olhar Azul como o Céu




O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)

Alberto Caeiro